24/04/2020

A BATALHA DA PACIÊNCIA E DA MANHA GANHAS PELA DITADURA

Dizer que a abertura à China foi pensada, a ocidente, como uma forma de trazer mudança e democracia à China é poesia que nem o mais acérrimo utópico, ou o desnorteado sonhador seriam capazes alguma vez de imaginar. O único interesse, e foi esse que pressionou (e moldou) o poder político, foi económico: das grandes multinacionais e dos grandes investidores -em que todos saíram a ganhar menos o povo de ambos os lados (embora na aparência assim o parecesse). Isto apesar de terem tido acesso a produtos ora baratos, ora ainda mais caros -que passaram a ter maior margem de lucro- mas menos duradouros e por isso necessitando de substituição com maior frequência causando, assim, maior impacto negativo no ambiente -incomportável para a vida na terra. 
E o grande vencedor foi a irredutível China, aliás o partido comunista chinês. Venceu em todas as frentes que queria, e ainda nas que pensou teria de fazer mais e maiores concessões: propriedade intelectual, know-how de ponta, direitos humanos internos, permissão para as empresas internacionais terem acesso ao seu mercado sem restrições. Enfim, deram-lhe a cenoura, depois o bolo, a cereja, e por fim, o mundo, quase sem gastar um tostão. Aliás, com lucros inimagináveis para o partido comunista: morais, financeiros e militares; para as empresas estatais, através duma teia de empresas pseudo-privadas mas de facto controladas pelo partido e pelos militares; e por último, para o povo chinês -transplantado do campo para a cidade- mas sem nunca terem passado no crivo dos valores ocidentais face à ausência total de direitos humanos a não ser os de trabalhar, calar e vergar.
A ocidente, foram-se rendendo à vontade cada vez mais poderosa e assertiva do partido comunista e sua liderança omnipotente. E depois de se terem rendido à artimanha, passaram à fase seguinte (inevitável) de venderem  empresas estratégicas, ao desbarato, sem acautelar os interesses nacionais, sem questionar a segurança e futura dependência. E, o mais incrível ainda, confiando em quem não é de confiança, com provas dadas em todas as frentes: desde o total desrespeito pelos direitos humanos em geral, e das minorias em particular, pela ditadura de facto cada vez mais fortalecida e por isso vacinada contra qualquer valor democrático, pela corrida ao armamento e poderio militar, pelo desrespeito por normas e regras internacionais, bully de países vizinhos com quem tem disputas territoriais, falta de transparência em qualquer área ou matéria. 
Por último, a silenciosa mas metódica ‘compra’ em 'saldo' de países pobres e com fracas instituições governativas e judiciais, através de investimentos em infra-estruturas (BRI, Belt and Road Iniciative)-pagas e construídas pelos chineses, naquilo que é comumente conhecido como uma ‘win win (e win)’ situation: 1) financiam, 2) fazem o trabalho (empresas, e mão-de-obra em parte, chinesas) recebendo em pagamento o seu próprio financiamento 3) e ainda ficam com um crédito (impagável para a maioria) que lhes serve de porta dos fundos para acesso a tudo o que seja valioso (e o único motivo, de facto, para o interesse chinês) nesse país, enquanto mantém um estrangulamento vital (controle de facto) aos países que por aí se aventuraram -muitas vezes a troco de subornos a altos dirigentes e governantes sem escrúpulo.
E assim chegamos ao covid- 19 e à triste figura que todos os países considerados avant-garde -histórica e tecnologicamente-, democráticos e pseudo-exemplos de sociedades cultas e progressivas, estão a mostrar. Ah! E extremamente respeitadoras dos direitos humanos dos seus povos (com alguma questionabilidade aqui e ali), mas sem nenhum respeito pelos do povo chinês (conversa fiada não conta!), oprimido e desprezado pelos seus algozes. Aqui, falhamos estrondosamente, quer pelo nosso egoísmo pérfido, quer pela nossa maldosa falta de remorsos, e fatal falta de moral. 
E por isso, e muito mais, estamos agora a viver uma onda de populismos, com resquícios ditatoriais um pouco por todo o mundo democrático: desde os Estados Unidos, Inglaterra, Hungria, Polónia, Áustria, Itália, Filipinas, Brasil, etc...

A falta de estratégia (apesar do ocidente pensar que tinha uma) é evidente e inqualificável. A China foi a única a demonstrá-la. 
E se isto tivesse sido um jogo de xadrez já teríamos sido postos em xeque-mate há muito tempo atrás. Mas tudo se resume à falta de respeito e conhecimento de outras culturas, a ocidente -como aconteceu no Iraque, no Congo, no Vietname, no Afeganistão, no Médio Oriente, etc.- a vistas-curtas, a falta de planeamento a longo prazo e, acima de tudo, de coesão desejada pelo povo ocidental e seus líderes estadistas, não desenhada por meia dúzia de burocratas, tão arrogantes quanto ignorantes. 
E agora que chegamos, novamente, a um ponto perigoso de tensão global, polarizado, mas com poucos estadistas e líderes carismáticos que pensam apenas na sua sobrevivência política, por razões e interesses, diversos, e  no meio de uma pandemia global, como é que vamos construir pontes, remediar males internacionais, combater o aquecimento global, enfim, sobreviver como raça humana, inteligente e culta? Como?...

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