26/02/2022

PUTIN E OS OUTROS

Não retirando a responsabilidade total a Putin pela invasão da Ucrânia, se há algo que isto também demonstra é a falta de lideres políticos que avassala a sociedade ocidental, e em particular na europa. A União Europeia, com os seus líderes e membros habituados a mordomias que nem os reis da antiguidade poderiam sonhar, continua a ser um triste palco de vaidades e de vazio. Não conseguem falar a uma só voz, não conseguem receber novos membros sem deixar bem claro que há valores e regras que não são negociáveis, não tem uma política de investimento e desenvolvimento para as novas tecnologias, não vêm Africa como um parceiro, entregaram à China todo o know-how e propriedade intelectual a troco de quase nada, pondo em cheque não só a sua segurança como a sua economia. E não souberam aproveitar a queda do muro de Berlim e o desaparecimento da União Soviética para estender a mão aos Russos -que há mais de um século sofrem atrocidades perpetradas pelas sua elite politico-militar - e dizer-lhes: ‘vocês fazem parte da europa’. Também não têm um plano B para lidar com o mundo sem ser sobre a liderança, e no interesse primordial, dos Estados Unidos. Mas tal como os EUA, onde ninguém ligado aos governos parece saber algo de História, Geografia e Sociologia, continuamos a entrar em guerras: Iraque e Afeganistão, essencialmente, sem qualquer ímpeto instrutivo, cultural e humano, e muito menos conhecimentos bem cimentados da história e psique social desses povos.

Tal como os ‘tweets’ de pouco monta literária, também os discursos políticos, e os comunicados à imprensa sofrem de raquitismo intelectual e são parcos de substância e de personalidade. 

Liderar implica um visão, e uma vontade férrea de a conseguir concretizar para bem da humanidade, dentro e fora das fronteiras onde germinou.

E agora? Agora, ainda se fala que as sanções irão endurecer na medida em que o agressor mostrar mais ou menos disponibilidade para ouvir; dos mortos, que entretanto já começam a ser contabilizados, não podemos esperar que se queixem, ou mostrem incredulidade por tamanha complacência. A invasão e a guerra já são um facto na Ucrânia, não em Bruxelas nem em Washington ou Londres, e se isso não é suficiente para agirmos com determinação total nas sanções, então tarde e a más horas chegaremos à via diplomática, e sentar-nos-emos à mesa das negociações com as mão atadas, e a voz rouca de tanto gritarmos.

 

A humanidade atingiu uma inteligência intelectual e técnica sem paralelo, mas a sua inteligência emocional é de bradar; provavelmente por causa do egoísmo que uma parte da sociedade desenvolveu no pós II guerra mundial, atingindo níveis de conforto e de benefícios que as gerações vindouras só poderão sonhar, tendo de assumir, no entanto, com boa parte dos custos dessa loucura insustentável. Isto porque se permitiu aos empresários e suas multinacionais não arcarem, nem com qualquer responsabilidade social, muito menos ambiental; foi um verdadeiro faroeste! (-O regabofes das petrolíferas, dos bancos, do lobby do plástico, do açúcar, do tabaco, do álcool, da venda de armas... está bem documentado!)

E se poderiam faltar provas, vejamos o que as maiores empresas do sector tecnológico e das redes sociais estão a fazer ao tecido social, à democracia e ao frágil balanço que é a vida no planeta terra -impassíveis, sem regras ou leis que os dominem, ou obriguem a pensar bem nas consequência dos seus atos porque poderiam ser responsabilizados... continua o 'business as usual' do capitalismo desumano e atroz.

Enquanto na Ucrânia as pessoas deixaram de ter uma vida segura, saudável e normal, no resto da europa a vida corre impávida e serena; nem damos conta, também, o quão perto podemos estar de uma catástrofe global.